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16 de março de 2015

Lugar de criança é em família

Por Suzana Herculano-Houzel

Mãe é aquela pessoa de quem a gente espera sempre o melhor: colo, carinho, conforto, segurança. O que fazer, então, com uma criança ativamente maltratada pela mãe, ou sem mãe, pai ou família para abrigá-la? Transferir seu cuidado a instituições tem sido a norma – mas o que o cérebro da criança precisa para se desenvolver normalmente é de uma família, ainda que não a sua.

Um estudo recente comparou crianças romenas de 8 anos de idade, institucionalizadas quando tinham entre 6 e 31 meses de idade e adotadas ou não aos 2 anos, com outras crianças também romenas nunca institucionalizadas. Se a adoção pareceu rápida o suficiente… em termos de desenvolvimento cerebral, pouco pareceu importar. O estudo mostrou um volume da substância cinzenta cortical, onde ficam os corpos dos neurônios, cerca de 10% menor nas crianças que foram institucionalizadas no começo da vida, não importa se depois adotadas ou não, em comparação com crianças criadas por suas próprias famílias desde o começo.

Uma redução semelhante acontece na substância branca cortical das crianças institucionalizadas – aquele conjunto de feixes que interligam zonas diferentes do córtex e fazem o cérebro funcionar como um todo integrado. O amadurecimento funcional do córtex cerebral, portanto, fica para trás nas crianças institucionalizadas, mesmo que adotadas. Somem-se a isso outras evidências, como a taxa elevada de transtornos de ansiedade na vida adulta, e constata-se que a institucionalização deve ser apenas um último recurso.

Os resultados do estudo, contudo, dão margem a uma interpretação errada: de que adotar também não adianta. Adianta, sim – e a mensagem é justamente que crianças órfãs ou abandonadas precisam ser adotadas imediatamente, mesmo que por famílias temporárias, de preferência uma que saberá lhes dar carinho e atenção. A evidência mais impactante vem de… bebês ratos, que são facilmente “institucionalizáveis” em laboratório, recebendo contato com ratas-mães apenas para se alimentarem – ou sendo entregues aos cuidados de ratas-­mães adotivas.

A diferença entre o cuidado apenas burocrático e a adoção por uma mãe carinhosa ou, ao contrário, por uma mãe ausente, é evidente até mesmo com os ratos. A separação crônica da mãe deixa várias marcas no cérebro, modificações que levam a problemas cognitivos, ansiedade crônica e hiperreatividade a estresses na vida adulta. Mães adotivas tão pouco presentes e atenciosas quanto uma cuidadora institucional ajudam um pouco, mas não muito (embora, para o cérebro, qualquer mãe seja melhor do que nenhuma mãe – mas isso é outro assunto).

Em comparação, ser criado por uma mãe-rata adotiva carinhosa, que vive recolhendo sua cria para deitar em cima dela e lamber seus filhotes, é tudo de bom para esses bichinhos e seus cérebros. E mais: ratinhas criadas por mães carinhosas, adotivas ou não, mesmo se filhas biológicas de mães que as desprezaram, se tornam adultas com bem menos problemas de ansiedade – e, quando chega sua vez, mães também carinhosas. Dar carinho ao seu filhote adotado, portanto, é investir desde já no bem-estar dos seus netos.

Por fim, pais, não se sintam excluídos. Estudos com ratos são necessariamente feitos com as mães porque os ratos pais… não dão a mínima para os filhotes. Mas vocês, homens, são diferentes: podem escolher fazer a diferença para seus filhos, biológicos ou adotivos, dando-lhes muito carinho e atenção.
Fonte: Uol