Eu não entendia sobre adoções, não sabia nem como proceder, mas tinha uma forte e inabalável certeza. Queria adotar. Fui para um orfanato e lá me mostraram como proceder. Me cadastrei numa fila interminável e fiquei surpresa quando me perguntaram como deveria ser o meu bebê… cor, sexo, idade. Pensei: não vim comprar um produto, quero uma criança para amar.
Conheci meu filho com uma semana. Uma coisinha muito pequena. Todo enrolado numa manta azul, dividindo o berço com vários outros bebês. Quando eu o peguei, sabia que ele estava ali para ser meu filho. É como se eu o conhecesse há anos. Coisas de mãe. Meu filho foi deixado no hospital ao nascer. E de lá foi direto pro orfanato. Já chegou lá muito doente. Lá me disseram que ele tinha sido rejeitado por vários casais porque era doente e era filho de negros. Doentes eram essas almas, tão vazias e cegas… Seus olhinhos eram cheios de pus. Seus testículos tinhas feridas. Seus pés tinham hiperidrose. E seu sangue tinhas algo chamado anisocitse e uma anemia muito forte. Consegui tirar meu bebê do orfanato com 2 meses, mas, nesse processo, eu levava até ele, uma pediatra, pessoa muito humana que nos ajudou.
No final de novembro de 1993, eu entrei na minha casa com um anjo nos braços. Todo o seu enxoval era verde, a cor da esperança. Meu filho não se mexia, não tinha reflexos. Mas, desde sua época de orfanato, eu fazia uma massagem chamada shantala e cantava pra ele, uma música do Netinho (cantor baiano) que dizia assim: “Amor, quero sentir o teu perfume, amor, quero sentir felicidade”… e naquele dia, quando eu acabei de cantar, ele sorriu pra mim. O sorriso mais lindo que me fez chorar de emoção. Em casa, com acompanhamento médico periódico, muito amor e muita oração, ele se recuperou surpreendentemente.
Luiz Fillipi foi crescendo feliz e adquirindo saúde. mostrava aptidão pra música e esporte. Sempre foi um filho calmo, bacana, respeitador, bem-humorado e muito gaiato. Menino tímido que cantava apra mim. Adorava acariciar meus cabelos e me dizia que eu parecia um sol.
Infelizmente, alguns parentes falavam sobre a cor do meu filho e a minha. E um deles me chamou para dizer que eu estava criando cobra para me picar. Isso foi o suficiente para eu querer distância dessas pessoas tão pequenas. Resolvemos morar em Natal, levar uma vida simples e com mais qualidade. Eu e meu marido decidimos largar o emprego e criar nossos filhos longe da hipocrisia. Meus pais e irmãos vieram juntos! Foi maravilhoso. Quando cheguei aqui decidi que não iria trabalhar e iria me dedicar somente a eles.
Há três anos tive câncer. Recebi as forças de Deus e da minha família. Nesse período, virei a filha dele… me deu banho, me alimentou, cuidou de mim com todo cuidado. Não tinha como não sobreviver! Eu tinha por obrigação ficar viva para continuar ali, naquela família tão abençoada.
Hoje paro, olho para trás e penso na nossa história. Quantos Luiz Fillipi estão por aí, na solidão, no abandono, esperando apenas a chance de ganhar uma família.E só tenho a agradecer a Deus pelo presente de luz que Ele nos enviou. Um anjo moreno, revestido de bondade e amor, com o sorriso de raio de sol e cheirinho de jasmim, que vem todos os dias, com seu jeito doce e amigo me abraçar, me beijar e me fazer tão feliz. É nos braços de anjo moreno que eu encontro a paz e a certeza de que tudo valeu muito a pena.
Ana e Luiz Fillipi
Eu cresci numa família onde os valores sempre prevaleceram e o amor era a força que transbordava em nós. Há quase 22 anos, no RJ, nasceu a ideia de oferecer a alguém tudo o que eu tinha recebido, de dar todo amor que havia em mim.